
Trabalho interdisciplinar viabiliza o procedimento, que é minucioso.
Formada há pouco mais de seis meses, a Comissão Intra-Hospital de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott), do Hospital e Maternidade Municipal de São José dos Pinhais, teve a sua primeira experiência de salvar vidas. Na semana passada, foi feita a primeira captação de órgãos pelo grupo, de maneira bem sucedida, em trabalho minucioso que teve duração de mais de seis horas.
O Hospital já possuía o credenciamento do Estado para a doação de órgãos desde 1999, mas o procedimento não acontecia em virtude da falta da Cihdott. O trabalho interdisciplinar, feito por psicólogos, assistentes sociais, médicos e enfermeiros, é que viabiliza o procedimento.
A doadora foi Ana Eva Ribeiro, de 52 anos, que sofreu morte encefálica na sexta-feira (13), ou seja, a condição final e irreversível das atividades cerebrais. O procedimento padrão é que o médico responsável comunique a comissão, que inicia uma série de exames clínicos para confirmar a morte cerebral. Depois disso, a Central de Transplantes do Paraná, que funciona 24 horas, é notificada e fornece as coordenadas para dar continuidade ao procedimento.
“A equipe da UTI precisa ficar atenta para manter em condições o potencial doador, pois pode vir a acontecer uma parada dos órgãos”, explica Edi Glaucia Repula, assistente social da Central de Transplantes do Paraná. Além disso, outros exames são feitos para a confirmação da morte encefálica, como o eletroencefalograma, o Doppler e a arteriografia cerebral, custeados pelo Ministério da Saúde.
Durante todo esse processo, a equipe da Comissão faz o acolhimento da família, garantindo o acesso aos exames e a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para que se estabeleça uma relação de confiança. “Mas isso sem mencionar a doação, para que a família não confunda as coisas”, afirma Edi. Somente quando não restam dúvidas os profissionais esclarecem a situação e oferecem a possibilidade da doação.
A partir da aceitação da família, começa a corrida contra o tempo. A Central aciona as equipes de retirada dos órgãos e comunica os receptores. A dificuldade muitas vezes está na distância entre o local onde se encontra o órgão e o receptor. “Nesse caso, por exemplo, o fígado da doadora foi destinado a uma paciente de Londrina, que precisou vir até Curitiba para recebê-lo. O tempo para o transplante do fígado é até 12 horas, por isso é preciso agir com rapidez”, conta Edi.
Cada órgão tem um tempo diferente de duração. No caso da doadora de São José dos Pinhais, os rins, o fígado, o globo ocular e os linfonódulos foram destinados a pacientes que aguardavam na fila de espera do Estado. O coração e o pâncreas não puderam ser aproveitados, em virtude de ela ter mais de 50 anos.
Os pré-requisitos para a doação de órgãos fazem com que não seja um procedimento tão comum em um hospital. “É difícil ter um término para a doação. Além da confirmação da morte encefálica e do consentimento da família, depende do estado de vida do paciente, das condições de saúde, se ele usava substâncias ilícitas, álcool, etc”, declara Juliana da Silva Flores Santana, coordenadora do serviço social do Hospital e Maternidade Municipal de São José dos Pinhais.
A doadora
Desde pequeno Vanderlei Ribeiro dos Santos, de 32 anos, cuidou da mãe, dona Ana Eva, que sofria de epilepsia. Segundo ele, a doença fazia com que ela caísse com frequência e, para não incomodar, ela não gostava de pedir ajuda aos outros. A última queda fez com que ela batesse a cabeça e passasse mais de 10 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), indo a óbito. “Quando ela estava no hospital questionei o médico se os órgãos estariam comprometidos, pois já pensava na doação. Ele não quis comentar a hipótese no momento, porque ainda acreditava que ela pudesse sobreviver; mas eu já tinha um pressentimento”, conta Vanderlei.
Ele conta que quando soube que a mãe realmente tinha sofrido morte encefálica, conversou com os irmãos e decidiram pela doação dos órgãos. “Me sinto bem aliviado com a nossa decisão. Quando vi ela no caixão, pensei que mesmo sem vida ela pode ajudar a salvar outras pessoas”, desabafou Vanderlei.
Foto: Sergio Sabino
Fonte: Prefeitura Municipal de São José dos Pinhais
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