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terça-feira, 27 de março de 2012

Ex-promotora de vendas relata experiência como catadora de lixo

No único dia que ficou em São José dos Pinhais, Viviane fez questão de conversar com os catadores da cidade 

A Associação Comercial de São José dos Pinhais (Aciap-SJP), por meio do Conselho da Mulher Executiva, realizou dia 21 de março, no Calu Eventos, a entrega do Troféu Mulher, Simplesmente Mulher 2012, como parte das comemorações ao Dia Internacional da Mulher em 08 de março. Foram premiadas lideranças femininas que são exemplos de solidariedade e conquista social. A homenageada em âmbito estadual foi concedida para Viviane Mertig, responsável pela implantação do Programa Coleta Solidária em Foz do Iguaçu. Viviane, quando era casada, trabalhava como promotora de vendas e considerava a atividade de catar lixo algo sub humano. Ano depois, separada e com uma filha pequena, teve que fazer do lixo o seu sustento. 

O Programa Coleta Solidária tem patrocínio da Itaipu em 29 municípios da região em quem está localizada a hidrelétrica. Viviane também faz parte da Coordenação dos Catadores de Papel do Paraná. No jantar de entrega de premiação da Aciap ela deu um depoimento e pediu à classe empresarial a valorização do que defende como profissão. 

PautaSJP.com – Quando você começou a trabalhar com lixo?
Viviane Mertig – Como a grande maioria das pessoas, comecei a catar lixo por necessidade. Esta é uma questão que sempre defendemos na valorização do trabalho, que ele seja uma opção e não uma imposição. Era o ano de 2002, tinha me separado e a minha filha era pequena e comecei a revirar o lixo para vender tudo o que podia ser vendido, como as latinhas de bebida. 

PautaSJP.com – Você comentou que antes considerava o catador como algo menor?
VM – Eu era promotora de vendas, tinha a casa com meu marido, tínhamos carro e quando via alguém na rua catando lixo eu era preconceituosa. Jamais imaginei que um dia estaria fazendo isso. Lembrei várias vezes deste preconceito quando uma moradora soltou o cachorro em cima de mim porque estava mexendo no lixo dela. Eu me divorciei, mesmo com filho pequeno, para ter a minha vida. Cheguei a morar com meus pais novamente, mas o meu pai não aceitava a ideia de eu ter me separado. Encontrei na separação do lixo a minha autonomia e o meu sustento. Já tive muitos convites para fazer outra coisa. Quanto mais trabalho pela cooperativa de catadores mais me convidam para trabalhar em outra atividade, mas é algo que passei a gostar de fazer, que realmente é importante para o meio ambiente. 

PautaSJP.com – Qual foi o momento que passou a valer a pena enfrentar o preconceito e você teve mais renda?
VM – Quando eu consegui um carrinho para coletar. Usar o carrinho é uma forma de mostrar para a sociedade que você trabalha e muito para ter renda, e também aumenta bastante o lucro. Na Coordenação dos Catadores de Papel do Paraná a aquisição de um carrinho, com estrutura e bem sinalizado, é uma das nossas grandes bandeiras. 

PautaSJP.com – Como funciona a cooperativa e como está o mercado?
VM – Nós somos em cerca de 150 catadores de lixo que fazem curso de higiene e limpeza, auto-estima, de como abrir e fechar os sacos sem rasgá-los, entre outros. Além do carrinho, são importantes as parcerias com Prefeituras para selecionar o lixo em um barracão. Poucos sabem que a legislação permite às Prefeituras que contratem, e sem licitação, cooperativas de catadores para trabalharem em processos de seleção. 

PautaSJP.com – A valorização deste trabalho tem dado resultado?
VM – Melhorou sim. Existe mais apoio dos governos, porque mesmo que uma cidade tenha a chamada coleta seletiva, é o catador que entra em terreno baldio, que vai para baixo de um carro buscar aquela garrafa pet que estava quase escondida, ou seja, é o catador quem diminui boa parte do lixo que vai para os aterros. 

Fonte: PautaSJP

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