
Luci Ane Rosa é educadora e trabalha em SJP com Psicomotricidade Relacional
Quem tem filho pequeno ou acompanha de perto o crescimento de uma criança sabe que a partir de um momento ela escolhe um desenho animado ou um livro de história para ver, rever, rever, ver mais uma vez e assim sucessivamente, sem se cansar. E isso acontece por muito tempo, até que, de uma hora para outra, ela escolhe outro enredo para ver, rever, rever...
Como é cansativo, eu sei! Mas sabe que é muito importante para o processo de desenvolvimento da criança? Vou tentar explicar! As histórias feitas para os pequenos, em geral, apresentam personagens com características de personalidade muito bem estabelecidas. Isso quer dizer que quem é bom é sempre bom e quem é mau é sempre mau. Reparem que são apenas nas versões mais modernas dos clássicos que a madrasta passa a ser boazinha, que a princesa fica revoltada, que o lobo nem é mau...
Isso pode ser bem interessante para aguçar a criatividade, mas há algo nessa questão que me deixa um tanto intrigada. Se formos pensar um pouco mais além, vamos chegar também no fato de que “não atire o pau no gato” é o mais indicado. Hoje em dia tem muitas escolas deixaram de lado a versão original da música só para aderir à onda do “ecologicamente correto”. Concordo, cuidado com o meio ambiente é algo que precisa ser vivenciado desde muito cedo por todos, mas o que pode acontecer com a criança se o tempo todo estamos buscando privá-la das maldades e tristezas do mundo? Será que ela dará conta de passar por uma experiência real sem ter podido experimentar em um plano mais seguro (só vendo ou imaginando)?
Quando a criança vê e revê sua história favorita, ela está tendo a oportunidade de se colocar no papel de cada um dos participantes do enredo (e daí a importância de se ter o “bom” e o “mau”). É como se ela conseguisse ser cada um dos personagens em um dado momento. Ela pode ser o herói ou o vilão e de uma forma em que menos se expõe, com a garantia de que tudo dará certo no final – sim, porque os contos de fadas sempre trazem um final feliz. E não é nesse aspecto que nós adultos nos agarramos em tudo que fazemos, na esperança de que conseguiremos as coisas que queremos e precisamos?
Por isso, para mim é muito importante que a criança possa assistir quantas vezes quiser o mesmo filminho, ouvir a mesma história todos os dias e, de preferência, sem que a narrativa seja “sabotada” pelo adulto, mesmo que no intuito de poupá-la de uma dura realidade. O que sugiro, então, é que resgatemos os clássicos da literatura e das músicas infantis, contribuindo para o desenvolvimento emocional dos pequenos. E se além de oferecer esses produtos para as crianças pudermos estar com elas em alguns momentos, aí a diversão será garantida, pois a nossa memória infantil será resgatada e o prazer virá à tona, trazendo cumplicidade e parceria, fundamentais para um bom relacionamento.
Luci Ane Moro Rosa é especialista em Psicomotricidade Relacional (CIAR/FAP), especialista em Tecnologias Educacionais (PUCPR), especialista em Educação Infantil e Séries Iniciais (IBPEX) e Pedagoga (UFPR). Contato luci.ane@vivenciarelacional.com.br.
Fonte: PautaSJP
0 comentários:
Postar um comentário