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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Integração de ônibus fica na berlinda


Sem subsídio estadual, transporte público integrado na RMC gera déficit anual de R$ 80,8 milhões e corre o risco de ser suspenso


O convênio que viabiliza a operação da Rede Integrada de Transporte (RIT) em Curitiba e outros 13 municípios da Região Metropolitana vence no próximo dia 7 e ainda não há acordo sobre a sua manutenção. As negociações entre a Urbanização de Curitiba (Urbs), operadora do sistema, e a Coordenação da Região Metropolitana (Comec), órgão do governo estadual responsável pelo setor, têm um impasse sobre a ajuda financeira, o que coloca em risco a integração do transporte entre as cidades.

Por enquanto, o estado oferece apenas a isenção do ICMS sobre o óleo diesel, o que é insuficiente para o sistema sair do vermelho. A tendência é de que o governo estadual deixe de pagar o subsídio atual de R$ 64 milhões para o serviço. Sem o auxílio estadual, a Urbs assumirá um déficit anual com o sistema de R$ 80,8 milhões.

Enquanto os dados da Urbs mostram que o transporte urbano de Curitiba é autossustentável – e chega a ter um superávit mensal de R$ 112,2 mil –, no cenário metropolitano a situação é diferente. As longas distâncias percorridas e a baixa ocupação geram um prejuízo mensal de R$ 6,7 milhões. Com isso, o custo técnico da passagem nos municípios vizinhos chega a R$ 4,19.

Risco

A falta de um acordo financeiro pode pôr um ponto final à integração entre os municípios, já que ele está atrelado ao ponto técnico que autoriza a Urbs a gerenciar todo o sistema. “Se não tivermos o convênio, não teremos competência legal para operar na rede integrada”, afirma o presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Júnior. O coordenador geral da Comec, Rui Hara, reitera que a falta de acordo esbarra justamente na questão financeira. “O governo do estado oferta a questão do subsídio do diesel e discute o que pode haver além disso, o que é preponderante para o município [Curitiba], mas o governo do estado também tem dificuldades financeiras”, diz.

Luizão Goularte Alves, prefeito de Pinhais e presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba (Assomec), vê com preocupação a falta de acordo. “Se desintegrar, será um caos total, porque cada município vai ter que pegar seus passageiros, levar para Curitiba e jogar em algum lugar lá. Inclusive, desarticula todo o sistema de Curitiba”, avalia.

Para o professor do Departamento de Transporte da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Garrone Reck, a integração de Curitiba e região é fundamental. “A integração não gera só custos, gera soluções também e deve ser mantida”, afirma. Reck ainda avalia que é preciso maior transparência nos cálculos tarifários. “Esse valor de R$ 4,19 é zombar da inteligência da população. Por que o passageiro da Fazenda Rio Grande, que faz o serviço local lá, tem que pagar taxa de gerenciamento para Urbs, ISS pra Curitiba, limpeza de tubo em Curitiba?”, questiona.

Maioria das cidades da RMC não tem rede própria
Levantamento feito pela Gazeta do Povo mostra que a maioria das 13 cidades metropolitanas que compõem a Rede Integrada de Transporte (RIT) não mantém uma rede de transporte urbano própria. Nesse caso, os próprios veículos da RIT funcionam como alimentadores, fazendo a ligação entre bairros e terminais. As linhas são geridas pela Comec, totalmente independente do poder executivo municipal.

Para o engenheiro Luís Antonio Lindau, PhD em Transportes e diretor-presidente da Embarq Brasil, o modelo de transporte ideal é aquele de uma rede única, integrada, multimodal e estruturadora. “Se eu tenho metrô, BRT, linha metropolitana e urbana, aí tenho rede demais. O ideal é montar uma rede única e multimodal”, avalia. Essa situação já ocorre nas cidades de Itaperuçu, Campo Magro, Colombo, Almirante Tamandaré, Pinhais, Fazenda Rio Grande e Contenda, que não mantêm serviço urbano.

Por outro lado, a rede urbana municipal também tem suas vantagens, como um preço mais baixo. “Cada município da região pode ter sua rede urbana montada de acordo com os interesses locais e conectá-la com a metropolitana por integração. Em muitos casos, o serviço metropolitano onera o municipal”, analisa o professor da UFPR Garrone Reck. Nesse modelo se encaixam as cidades de Araucária, Campo Largo, São José dos Pinhais, Piraquara, Bocaiúva do Sul e Rio Branco do Sul.

Disparidades

Mesmo assim, os municípios apresentam muitas disparidades entre si. Enquanto São José dos Pinhais possui um modelo que transporta 1,5 milhões de passageiros por mês, com bilhetagem eletrônica, o serviço urbano de Piraquara é restrito a duas linhas regulares ao longo da semana e uma que opera apenas nos finais de semana.

Até mesmo as cidades que usam apenas a estrutura da RIT podem enfrentar problemas. Esse é o caso de Contenda, que mantém um acordo verbal com Araucária há cinco anos para garantir a integração. Uma linha sai da cidade e segue para Araucária, onde pode ser feita a integração ao sistema. Como a linha é considerada deficitária pelo município vizinho, há o risco de o serviço ser suspenso e Contenda não possuir recursos para assumir o transporte.

São José dos Pinhais

“Não vemos possibilidade [de substituir a RIT]”, resume o secretário municipal de Trânsito e Transportes, Adriano Marcus Mühlstedt, sobre a eventual interrupção na rede integrada de transporte intermunicipal. Apesar de duas empresas de ônibus atuarem no sistema urbano, da região central para os bairros, a cidade não tem convênio paralelo com outros municípios para garantir o acesso à capital. O secretário avalia que uma readequação das linhas poderia apontar formas de cortar os custos do sistema. “A integração é um benefício para as cidades da Região Metropolitana e para Curitiba. Os problemas são comuns e as soluções devem ser discutidas de maneira conjunta”, afirma.

Fonte: Gazeta do Povo

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